FASCINANTE

21/12/2013

A Idade Do Lobo - Sonho Mar

A este texto, escrito em 2004, o amigo Luiz Poeta respondeu com seu enorme
talento poetal, e como o tema sempre será atual, tomo a liberdade de
reeditar este dueto com um amigo muito querido.
Ósculos e amplexos,
Marcial

Claro que não estou me referindo à idade do ilustre Lobo Viana, que já ganhou até uma rua em Santos. Idade do Lobo refere-se aos homens que, ao atingir determinada faixa de idade começam com algumas idéias esquisitas na cabeça. Embora, por puro preconceito, resista-se a esta idéia, é quando começa o "climatério", que vem a ser como que uma "menopausa masculina". Não queiram discutir, porque já está cientificamente provado que é um fato!
Em poucas palavras a chamada "Idade do Lobo", ataca os homens quando começam a sentir com mais peso a passagem dos anos, e de repente percebem que estão na fatídica "casa dos ENTA", e já não são mais os mesmos.
Nessa faixa de idade geralmente começam alguns questionamentos e os homens começar a se perguntar se estão ficando velhos, se ainda conseguem fazer as mesmas coisas de quando eram jovens. E tentam fazer.
Claro que não é regra geral. O importante é acompanhar sempre a marcha do tempo e dos acontecimentos. É saber que o tempo passa, e que sempre vem trazendo certas limitações. Fazer o que? É inevitável.
O problema é que nem todos encaram a coisa sob esse prisma.
E quando percebem que algumas gordurinhas aparecem, e que seu vigor não é mais o mesmo, começam a se apavorar. Recusam-se a aceitar que é a cobrança do tempo, e este é inexorável.
Tomam algumas atitudes certas, pois procuram fazer esportes, para "ficar jovens". A postura é certa, mas o pensamento é que é errado, pois começam a querer competir com os mais jovens, para "mostrar que ainda são mais eles". E não é por aí, pois tudo tem seu tempo.
Começam a procurar companhias mais jovens, principalmente femininas. Pois, se conseguirem conquistar garotas jovens, estarão provando que ainda "dão conta do recado", e que sua masculinidade não pode ser posta em dúvida.
Bem... penso que a coisa não é exatamente por aí. O homem prova que é homem, com atitudes condizentes com seu caráter, e não através de conquistas amorosas.
Aliás, já dizia nosso querido poetinha Vinícius de Morais: "Ter muitas é fácil. O difícil é ser homem de uma mulher só". Possivelmente sua verdadeira condição de homem ficaria comprovada conquistando todos os dias a companheira de tantos anos, ao invés de ficar tentando mostrar que ainda tem "poder de fogo".
Vinícius acertou na mosca. Aventuras sempre são conquistadas com facilidade. E esse é o grande problema que nossos amigos "Lobos" muitas vezes encontram, pois no afã de correr atrás da juventude perdida, acabaram abandonando quem estava ao lado, a companheira de tantos anos.
Sempre me entristece quando sei de casos assim. Quarentões, cinqüentões e mesmo sessentões que terminam relacionamentos de longos anos por causa de aventuras com garotas mais jovens e bonitas (a velha matemática de trocar uma de 40 por duas de 20).
Dos muitos casos que conheci, poucos deram certo. Na maioria das vezes quando cessou o ponto de interesse da garota pelo coroa, nosso "lobo" volta a ser "cordeiro", e não sabe o que fazer da vida, já que nem sempre é aceito de volta no ninho abandonado.
E daí? Valeu a pena ter provado que "ainda tinha lenha prá queimar"?
Esse é um ponto que tem ser muito bem pensado e repensado.
Em primeiro lugar não se corre atrás do tempo perdido. O que passou, passou. A chegada dos anos não traz apenas a velhice, traz a maturidade que é ponto mais importante, e que temos de saber explorar. Temos que usar nossa experiência, ao invés do vigor físico, que é apanágio dos jovens. Podemos e devemos ensinar, e não competir com eles. Cada coisa em seu lugar.
Não vai aqui nenhum preconceito sobre relações intergeracionais. Elas existem, e já comentei diversas vezes sobre isso. Cada caso é um caso.
Vai somente um alerta aos "candidatos a lobo". Pensem bem antes de se decidir a ser jovens de novo, e se com isso não vão acabar perdendo o referencial de sua vida, e procurem sempre ter UM LINDO DIA...

Marcial Salaverry


O homem que envelhece
É como um velho navio.
Cujo casco enfraquece
Pelo vento ou pelo frio...

Pelo sal... água do mar,
Choques na pedra do cais,
Pelo ir... pelo voltar,
Pelo foi... que não vem mais.

Mas o amor, marinheiro
Vivo no seu coração,
Escolhe sempre um roteiro,
Para a velha embarcação.

E o navio abandonado,
Desprezado pela vida
Entende que é chegado
O momento da partida.

O mar já não é o mesmo,
O vento sopra mais forte
E o navio segue a esmo
Buscando o sul... ou o norte...

O homem, velho navio,
Cuja alma não morreu,
Tem medo do mar bravio
Pelos danos que sofreu.

E mira o horizonte,
Sente a lágrima brotar...
O sonho mora defronte
Da angústia do seu olhar.

Resta a ele, já cansado,
Entender seu coração.
Pois seus sonhos mais guardados
Nunca mais sucederão.

Ele inventa fantasias...
Um homem pode sonhar
E esconder, na alma vazia,
Um jeito sutil... de amar.

Afinal... o tempo passa,
Mas um sonho nunca morre
E um velho sempre acha graça
Do sonho que o socorre.

Porque há vida além do olhar.
E o navio... não está morto
E é melhor morrer no mar
Do que na pedra... do porto

Luiz Poeta ( sbacem - rj ) - Luiz Gilberto de Barros
Exatamente às 20 h e 25 min. do dia 24 de setembro de 2004, sob inspiração do texto em prosa do talentoso escritor e poeta Marcial Salaverry, "A idade do Lobo".


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